quinta-feira, 22 de março de 2012

O lixo da cidade

              "Existe algo mais.." pensava Antônio, ou melhor, repetia mentalmente essa frase todos os dias como que quisesse se convencer disso. Não era mais do que um simples catador de latinhas em uma métropole que não lhe tinha piedade. Sua humilde "profissão" era ,na verdade, bastante disputada por tantos flagelados que a periferia conseguia estocar e o mundo aguentava enxergar. Os poucos reais que lhe ofertavam pelo exaustante dia de servidão ao sistema mal lhe rendia um saco de pão para nutrir seus filhos, futuros servos.
              Caminhava pelas ruas à procura de algum descuido, alguém que tenha lhe feito o favor de não jogar aquela bendita latinha no lixo reciclável.Ahh, como odiava aqueles depósitos que roubavam dele seu ouro.
Ao fitar uma ,rapidamente,pegava-a e não tardava em continuar sua caça  maltrapilha ao tesouro
Depois de tanto catar, mal alguentava seu franzino e esquelético corpo em pé e logo guardava o que conseguira no dia .Descansava seus calejados pés , sentando na calçada e observava o movimento frénetico da população.
                  Nesse dia em especial, tomou um pouco de seu tempo e refletiu como nunca. Sabia que não iria ser mais do que era ; era certo. Não queria deixar para seus filhos esse triste legado que lhe foi herdado desde o dia que nasceu ;eles estudavam pelo menos, ele nunca. Pensava que naquele momento iria achar uma grande idéia e que tudo aquilo que pensara antes era uma ilusão; nesse momento, o barulho característico do metal de uma lata contra o solo o tirou de seu sonho. Não pensou e foi logo pegá-la. À noite, foi ao bar se embriaguar; não queria mais pensar, não queria mais sonhar.  
                     
                                                              Fim

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