segunda-feira, 30 de julho de 2012

Um cachorro sem dono se deita
e acomoda-se na varanda alheia

Sem rumo, leva a vida mansa
aquela vida de pousada de barraca

E, entre afagos e cafunés, dorme
com o sussurro da maresia ao ouvido

Ai de mim que durmo em cama!
e nasci animal racional

sábado, 14 de julho de 2012

há uma mulher apenas
sentada no banco da praça
onde, ela, timidamente
lê o livro entreaberto

segura-o com seus
dedos de porcelana
à vista dos olhos passantes
e de seus, castanhos

ao fim da folha,
umedeçe os lábios e
lentamente, passa a folha
com seu delicado dedo molhado

assim, se passa o tempo
e ,entre cada mecha de cabelo
que cai e piscar de olhar involuntário,
o momento se refaz e faz...

e a vida é linda
e a vida é aquela mulher
apenas 



segunda-feira, 2 de julho de 2012

Não tanto espero
que o que farei
se torne lágrimas
dos que no coração
nada têm além de ódio
mais do que uma página
no tabloide de amanhã

Não espero também
que meu ato seja
martírio e que essas palavras
 sirvam em discursos
de palanque ou em rezas
pelos que encontrarei
afinal

Em silencio , grito por todos meus irmãos
que não puderam.
quero que minha paz
seja sentida por aqueles
que atiram
e que meu sofrimento
de agora me liberte e
ensine

Finalmente, espero que o fogo
que me arde o peito
termine de me consumir
a carne e que a luz
da minha alma seja vista
pelos que não fecharam
os olhos ao mundo
e ,assim, me desfaço.




(Thich Quang Duc nascido em 1897 e originalmente batizado de Lâm Van Tuc, era mais conhecido como monge Mahayana. Ele ateou fogo ao próprio corpo em um processo de auto imolação em 11 de junho de 1963, em Saigon – Vietnã do Sul, contra a política de perseguição religiosa promovida pelo governo de Ngo Dinh Diem. Enquanto seu corpo ardia sob as chamas, ele manteve-se completamente imóvel, não gritou e nem emitiu qualquer ruído)