quinta-feira, 20 de junho de 2013

reflexos de luz
em janelas de varandas
na manhã de todo domingo

caem
pela fresta da janela
ao lado de uma cama
e um abajur ligado

não existiu
ou existirá
este minuto
de novo


Uma flor sempre
será uma flor

o ser humano,
peculiar espécie,
contudo
é pedaços dele
mesmo

Assim que escorria
aquela gota
Dois, quatro tiros
e ninguém
viu

O povo se fez
de soberano
como há 21
anos atrás

Mas a história
que foi e se fará
de novo,
e de novo
pode não ser o grito de uma nação
apenas

Gritos, grunhidos,
raiva, latidos
A apoteose do individuo

Nossa convivência,
enquanto mais letal
arma de destruição,
se enquadraria
segundo nossos
mais apurados antropólogos
como um tribalismo sofisticado

terça-feira, 14 de maio de 2013

foi reclamar na secretária do município
É que, perto de sua rua, todas as noites de terça
uma jovem mulher cantava histórias
sobre quem ela era; quem, semana passada,
se chamou bethânia das dores

ai, a mulher não tinha mais voz
e foi perguntar pela cidade
se alguém a conhecia ou sabia seu nome

sábado, 16 de março de 2013

Agradeciam e o ofereciam filhas e banquetes
mas ele não as recebeu

Beijavam-no embaixo da chuva parisiense
mas ele não beijou de volta

Falavam paixões e medos freudianos
mas ele não as escutou

Gritavam aos prantos e o deixavam pra trás
mas ele não se importou

Esmurravam, cuspiam e caçoavam dia e noite
mas ele não sentiu nada

Mataram-no no meio do mercado da praça
mas ele nunca viveu



quinta-feira, 14 de março de 2013

E lá estava o prédio branco
 da esquina abandonada
Não morava pessoa ou gente
apenas sem-tetos e ratos

No último andar, não existia
cupim ou fantasma de filme
O vazio e silêncio de horas atrás
era o mesmo a cada instante

Quem, algum dia, tentasse
subir as escadas e entrar lá
Não voltava ou não mais se via
perdiam-se na metáfora do meu coração

quinta-feira, 7 de março de 2013

tinha a mente cárcere, pássaro em gaiola
não cantava para o nascer do sol e quem entrasse
não conseguia voar; tinha medo ele de altura
até que um dia, uma ideia o libertou

não voltou mais; talvez se perdera...
como o mar que vômita em cada anseio de onda
ela ruminava e jogava seus medos e náuseas
e há de quem não se molhar de sua onda!

só nos resta a luz do sol para nos secar...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Aonde foi minha desleixada alma?

Caminho por entre as sarjetas e mendigos
desta velha cidade bêbada
Bêbada de pessoas, de carros,
de outras almas vacilantes
Suspiro a cada homem de giz
marcado no chão pela polícia da Providência
Finalmente, acho-a trancada no banheiro do puteiro

ela não se olha no espelho porque não se reconhece
abro a porta e ela não me vê porque não me reconhece

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Doce música e ruidosos sons se entrecortam
e descontirnam-se aos pares de ouvidos
dos pedestres.

Há de compensar o violento com o belo,
o estresse com o sorriso.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

escorro pelo bueiro
por entre lagrimas e mijo

       me deixo esvair na água,
melancolicamente...


domingo, 6 de janeiro de 2013

O suor desde cedo acostumado ao sangue
pego naquele arado e faço o que devo, o que posso
Teu feudo, ó senhor, não é só essa terra que mastigo
é teu tesouro, teu cavaleiro, teu arado... sou eu

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Não se via a ponta de seus dedos
enquanto eles batiam e requebravam
furiosos e frenéticos nas cordas de aço
banhadas de suor e aplausos

E o som...
eles subiam esfregados nelas
e uma mulher na platéia suspirava
como se aquelas cordas fossem suas pernas

O sax gritava e atravessava com o som
as ruas do bairro pobre mal iluminado

(nada mais poderia ser descrito por palavras
e não cabe a esse autor escrever partituras)