domingo, 29 de janeiro de 2012

Sonhos de uma tarde de verão

Luz apagada, cabeça no travesseiro
Tento cerrar esses olhos
Tão cansados de ver o mundo
Este mundo preenchido de desiluções
Saudades daqueles que não amei
Saudades da terra que nunca foi minha
Agora, jaz o silencio e a escuridão

Diante do turbilhão de pensamentos
que pulam de galho em galho como micos
Acho um sossego para esta calejada alma
Sossego esse que amansaria corações
De quem lhes disseram que nunca tiveram um

A face madura e suave
Sorriso aquele que parece mover
todos os músculos certos
Qualquer ruga não será em vão!

 Está quente
A cidade que não pára exala
o calor de seus habitantes
Mas nada disso se assemelha
Ao calor de sua pele
Pele bronzeada que me esquenta
Pele tépida que me afagou....

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Banda e álbum que revolucionaram a música brasileira com mélodias e letras críticas e  um tanto quanto provincianas .Apresentando uma "mescla" de elementos de percussão e sonoridade de Recife e do povo nordestino regidos por rock e outros estilos "importados" como o ska ,eletrônico e rap pelo próprio Chico Science. Fundadores do movimento manguebeat juntamente com  banda coterrânea Mundo Livre SA de Fred Zero 4 estream com o ilustre "Da Lama Ao Caos" . Uma verdaderia antropofagia musical!



Monólogo ao pé do ouvido

Modernizar o passado
É uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui
Não preciso delas!
Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos
O medo dá origem ao mal
O homem coletivo sente a necessidade de lutar
o orgulho, a arrogância, a glória
Enche a imaginação de domínio
São demônios, os que destroem o poder bravio da humanidade
Viva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi!
Antônio Conselheiro!
Todos os panteras negras
Lampião, sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza, eles também cantaram um dia.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Assistam com atenção!!!

THE INVOCATION (A imagem de Deus)
100 min - documentário
Diretor: Emmanuel Itier
Wonderland Entertainment, 2010 
Elenco: narrado por Sharon Stone com Deepak Chopra, Desmond Tutu, o Dalai Lama, Oliver Stone, Karen Armstrong, Michael Beckwith, Mark Walhberg, Rosario Dawson, Stewart Copeland, Ervin Laszlo, Dean Radin e muitos outros líderes espirituais e pesquisadores
Recomendo esse filme a todos que buscam uma razão ou significado maior à essa mera existência mundana. É uma exploração da ideia de Deus e uma chamada para a harmonia global através do diálogo entre religião, espiritualidade e ciência. É um convite para elevar o nível de pensamento e revisar o as nossas percepções de Deus.Parafraseando o grande pensador Maomé :"Ao encontrarmos nós mesmos, encontramos Deus e todo o resto". A verdade do universo está em cada um de nós!

O delírio ( Mémorias Póstumas de Brás Cubas)

     Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; faço-o eu, e a ciência mo agradecerá. Se
o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais, pode saltar o capítulo; vá direito à
narração. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se passou na
minha cabeça durante uns vinte a trinta minutos.
     Primeiramente, tomei a figura de um barbeiro chinês, bojudo, destro, escanhoando um mandarim,
que me pagava o trabalho com beliscões e confeitos: caprichos de mandarim.
     Logo depois, senti-me transformado na Suma Teologica de São Tomás, impressa num volume, e
encadernada em marroquim, com fechos de prata e estampas; idéia esta que me deu ao corpo a mais
completa imobilidade; e ainda agora me lembra que, sendo as minhas mãos os fechos do livro, e cruzandoas eu sobre o ventre, alguém as descruzava (Virgília decerto), porque a atitude lhe dava a imagem de
um defunto.
     Ultimamente, restituído à forma humana, vi chegar um hipopótamo, que me arrebatou. Deixei-me
ir, calado, não sei se por medo ou confiança; mas, dentro em pouco, a carreira de tal modo se tornou
vertiginosa, que me atrevi a interrogá-lo, e com alguma arte lhe disse que a viagem me parecia sem
destino.
— Engana-se, replicou o animal, nós vamos à origem dos séculos.
     Insinuei que deveria ser muitíssimo longe; mas o hipopótamo não me entendeu ou não me ouviu, se
é que não fingiu uma dessas coisas; e, perguntando-lhe, visto que ele falava, se era descendente do
cavalo de Aquiles ou da asna de Balaão, retorquiu-me com um gesto peculiar a estes dois quadrúpedes:
abanou as orelhas. Pela minha parte fechei os olhos e deixei-me ir à ventura. Já agora não se me dá de
confessar que sentia umas tais ou quais cócegas de curiosidade, por saber onde ficava a origem dos
séculos, se era tão misteriosa como a origem do Nilo, e sobretudo se valia alguma coisa mais ou menos
do que a consumação dos mesmos séculos: reflexões de cérebro enfermo. Como ia de olhos fechados,
não via o caminho; lembra-me só que a sensação de frio aumentava com a jornada, e que  chegou umaocasião em que me pareceu entrar na região dos gelos eternos. Com efeito, abri os olhos e vi que o meu
animal galopava numa planície branca de neve, com uma ou outra montanha de neve, vegetação de
neve, e vários animais grandes e de neve. Tudo neve; chegava a gelar-nos um sol de neve. Tentei falar,
mas apenas pude grunhir esta pergunta ansiosa:
— Onde estamos?
— Já passamos o Éden.
— Bem; paremos na tenda de Abraão.
— Mas se nós caminhamos para trás! redargüiu motejando a minha cavalgadura.
     Fiquei vexado e aturdido. A jornada entrou a parecer-me enfadonha e extravagante, o frio incômodo, a condução violenta,
e o resultado impalpável. E depois — cogitações de enfermo — dado que chegássemos ao fim indicado, não era impossível
que os séculos, irritados com lhes devassarem a origem, me esmagassem entre as unhas que deviam ser tão seculares como
eles. Enquanto assim pensava, íamos devorando caminho, e a planície voava debaixo dos nossos pés, até que o animal
estacou, e pude olhar mais tranqüilamente em torno de mim. Olhar somente; nada vi, além da imensa brancura da neve, que
desta vez invadira o próprio céu, até ali azul. Talvez, a espaços, me aparecia uma ou outra planta, enorme, brutesca, meneando
ao vento as suas largas folhas. O silêncio daquela região era igual ao do sepulcro: dissera-se que a vida das coisas ficara
estúpida diante do homem.
     Caiu do ar? destacou-se da terra? não sei; sei que um vulto imenso, uma figura de mulher me
apareceu então, fitando-me uns olhos rutilantes como o sol. Tudo nessa figura tinha a vastidão das
formas selváticas, e tudo escapava à compreensão do olhar humano, porque os contornos perdiam-se
no ambiente, e o que parecia espesso era muita vez diáfano. Estupefato, não disse nada, não cheguei
sequer a soltar um grito; mas, ao cabo de algum tempo, que foi breve, perguntei quem era e como se
chamava: curiosidade de delírio.
—Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga.
     Ao ouvir esta última palavra, recuei um pouco, tomado de susto. A figura soltou uma  gargalhada,
que produziu em torno de nós o efeito de um tufão; as plantas torceram-se e um longo gemido quebrou
a mudez das coisas externas.
Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. Vives: não quero outro flagelo.
     — Vivo? perguntei eu, enterrando as unhas nas mãos, como para certificar
me da existência.
     — Sim, verme, tu vives. Não receies perder esse andrajo que é teu orgulho; provarás ainda, por
algumas horas, o pão da dor e o vinho da miséria. Vives: agora mesmo que ensandeceste, vives; e se a
tua consciência reouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver.
     Dizendo isto, a visão estendeu o braço, segurou-me pelos cabelos e levantou-me ao ar, como se fora
uma pluma. Só então, pude ver-lhe de perto o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma
contorção violenta, nenhuma expressão de ódio ou ferocidade; a feição única, geral, completa, era a da
impassibilidade egoísta, a da eterna surdez, a da vontade imóvel. Raivas, se as tinha, ficavam encerradas
no coração. Ao mesmo tempo, nesse rosto de expressão glacial, havia um ar de juventude, mescla de
força e viço, diante do qual me sentia eu o mais débil e decrépito dos seres.
— Entendeste-me? disse ela, no fim de algum tempo de mútua contemplação.
— Não, respondi; nem quero entender-te; tu és absurda, tu és uma fábula. Estou sonhando, decerto, ou, se é verdade que
enlouqueci, tu não passas de uma concepção de alienado, isto é, uma coisa vã, que a razão ausente não pode reger nem
palpar. Natureza, tu? a Natureza que eu conheço é só mãe e não inimiga; não faz da vida um flagelo, nem, como tu, traz esse
rosto indiferente, como o sepulcro  E por que Pandora?
— Porque levo na minha bolsa os bens e os males, e o maior de todos, a esperança, consolação dos homens. Tremes?
— Sim; o teu olhar fascina-me.
— Creio; eu não sou somente a vida; sou também a morte, e tu estás prestes a devolver
me o que te emprestei. Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada.
Quando esta palavra ecoou, como um trovão, naquele imenso vale, afigurou-me que era o último som que chegava a
meus ouvidos; pareceu-me sentir a decomposição súbita do mim mesmo. Então, encarei-a com olhos súplices, e pedi mais
alguns anos.     — Pobre minuto! exclamou. Para que queres tu mais alguns instantes de vida? Para devorar e seres
devorado depois? Não estás farto do espetáculo e da luta? Conheces de sobejo tudo o que eu te deparei
menos torpe ou menos aflitivo: o alvor do dia, a melancolia da tarde, a quietação da noite, os aspectos
da terra, o sono, enfim, o maior benefício das minhas mãos. Que mais queres tu, sublime idiota?
     — Viver somente, não te peço mais nada. Quem me pôs no coração este amor da vida, se não tu? e,
se eu amo a vida, por que te hás de golpear a ti mesma, matando-me?
     — Porque já não preciso de ti. Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem. O
minuto que vem é forte, jocundo, supõe trazer em si a eternidade, e traz a morte, e perece como o outro,
mas o tempo subsiste. Egoísmo, dizes tu? Sim, egoísmo, não tenho outra lei. Egoísmo, conservação. A
onça mata o novilho porque o raciocínio da onça é que ela deve viver, e se o novilho é tenro tanto
melhor: eis o estatuto universal. Sobe e olha.
     Isto dizendo, arrebatou-me ao alto de uma montanha. Inclinei os olhos a uma das vertentes, e
contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma coisa única. Imagina tu,
leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto
dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das coisas. Tal era o
espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade
que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação
mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la
seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos
do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, — flagelos e delícias, — desde essa
coisa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e
via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que
baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o
amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas
várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas
vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença,
que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e
rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos,
um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com
a agulha da imaginação; e essa figura, — nada menos que a quimera da felicidade, — ou lhe fugia
perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como
um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.
Ao contemplar tanta calamidade, não pude reter um grito de angústia, que Natureza ou Pandora escutou sem protestar
nem rir; e não sei por que lei de transtorno cerebral, fui eu  que me pus a rir, — de um riso descompassado e idiota.
— Tens razão, disse eu, a coisa é divertida e vale a pena, — talvez monótona — mas vale a pena. Quando Job amaldiçoava
o dia em que fora concebido, é porque lhe davam ganas de ver cá de cima o espetáculo. Vamos lá, Pandora, abre o ventre, e
digere
me; a coisa é divertida, mas digere-me.
     A resposta foi compelir-me fortemente a olhar para baixo, e a ver os séculos que continuavam a
passar, velozes e turbulentos, as gerações que se superpunham às gerações, umas tristes, como os
Hebreus do cativeiro, outras alegres, como os devassos de Cômodo, e todas elas pontuais na sepultura.
Quis fugir, mas uma força misteriosa me retinha os pés; então disse comigo: — “Bem, os séculos vão
passando, chegará o meu, e passará também, até o último, que me dará a decifração da eternidade.” E
fixei os olhos, e continuei a ver as idades, que vinham chegando e passando, já então tranqüilo e
resoluto, não sei até se alegre. Talvez alegre. Cada século trazia a sua porção de sombra e de luz, de
apatia e de combate, de verdade e de erro, e o seu cortejo de sistemas, de idéias novas, de novas ilusões;
em cada um deles rebentavam as verduras de uma primavera, e amareleciam depois, para remoçar maistarde. Ao passo que a vida tinha assim uma regularidade de calendário, fazia-se a história e a civilização,
e o homem, nu e desarmado, armava-se e vestia-se, construía o tugúrio e o palácio, a rude aldeia e
Tebas de cem portas, criava a ciência, que perscruta, e a arte que enleva, fazia-se orador, mecânico,
filósofo, corria a face do globo, descia ao ventre da terra, subia à esfera das nuvens, colaborando assim
na obra misteriosa, com que entretinha a necessidade da vida e a melancolia do desamparo. Meu olhar,
enfarado e distraído, viu enfim chegar o século presente, e atrás dele os futuros. Aquele vinha ágil,
destro, vibrante, cheio de si, um pouco difuso, audaz, sabedor, mas ao cabo tão miserável como os
primeiros, e assim passou e assim passaram os outros, com a mesma rapidez e igual monotonia. Redobrei
de atenção; fitei a vista; ia enfim ver o último, — o último!; mas então já a rapidez da marcha era tal,
que escapava a toda a compreensão; ao pé dela o relâmpago seria um século. Talvez por isso entraram
os objetos a trocarem-se; uns cresceram, outros minguaram, outros perderam-se no ambiente; um nevoeiro
cobriu tudo, — menos o hipopótamo que ali me trouxera, e que aliás começou a diminuir, a diminuir, a
diminuir, até ficar do tamanho de um gato. Era efetivamente um gato. Encarei-o bem; era o meu gato
Sultão, que brincava à porta da alcova, com uma bola de papel...

Nova Poética


Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Saí um sujeito de casa com a roupa de brim branco 
          [ muito bem engomada, e na primeira esquina 
                 [ passa um caminhão, salpica-lhe o paletó 
                              [ou a calça de uma nódoa de lama: 
É a vida
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as 
                                [virgens cem por cento e as amadas 
                                      [que envelheceram sem maldade.

Satélite

Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A lua baça
Paira.
Muito cosmograficamente
Satélite.

Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e enamorados,
Mas tão somente
Satélite.

Ah! Lua deste fim de tarde,
Desmissionária de atribuições românticas;
Sem show para as disponibilidades sentimentais!

Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti, assim:
Coisa em si,
-Satélite.

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.


Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.




A Dança


Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalianavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.
Outro
"De tanto andar uma região
que não figurava nos livros
acostumei-me às terras tenazes
em que ninguém me perguntava
se me agradavam as alfaces
ou se preferia a menta
que devoram os elefantes.
E de tanto não responder
tenho o coração amarelo"
blog dedicado ao apreciadores de poesia e outras coisas!