quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Trazer do dia e noite
a morte e o nascer
de uma realidade nova
insuficiente e incapaz

Desta máxima reles
a reencarnação contínua
do homem e seu ego
é devidamente obrigatória

(Talvez, única cura da fatalidade
de ser , constantemente, humano)

sábado, 25 de agosto de 2012

Enraiveçe e cresce descomunalmente
como uma tempestade por vir
Seus  olhos vermelhos rasgam a alma
de quem os encarar
E seu instinto, finalmente, se atiça
ao ver quem ou o que nunca poderá ser
Eu o aprisiono

Todo dia, diz-me mentiras ou verdades mal contadas
grita e esperneia; quer sair do cárcere e, penso eu, de si mesmo
Tenta-me toda tarde e ,a noite, apenas olha-me
cego de raiva, cego de ilusão

Não sei mais o que fazer com o demônio enjaulado
Não morre e não envelheçe a criatura malograda
Ao invés, se nutre de meu medo
Covarde que sou eu, não admito encará-lo de frente
e ver-me como num espelho


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Cante, minha cara,
que o momento é esse!
brade seus amores e dores
pra quem não te escutas

Não tapam mais sua boca
e deixaram de censurar teus caprichos
quando uma voz era um grito

onde todo mundo e ninguém eram inimigos

Dançe, minha querida,
que o momento é esse!
chame teu par escondido
e diga que o sol nasceu mais uma vez

Não te seguram mais
e sabem que teus passos
são você quem faz
quando um pulo era um abismo
onde o escuro não deixava ver o chão

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

menino, não pisa na areia
que o chão é mais seguro
tu não és maior
que os grãos de areia debaixo de ti!

menino, não entra no mar
que ele é forte e bravo
a vastidão dos oceanos
não fazem de ti uma gota

menino, não olha pro sol
que vai queimar teus olhos
protetor solar nenhum te protege
muito menos esta tua pele pálida

mulher, deixa eu brincar
na praia que tanto amo
não sabes que eu
sou também o sol, a areia e o mar?

domingo, 12 de agosto de 2012

Um beija-flor entra pela janela
trincada e empoeirada
de um apartamento fantasma;
não há mais ninguém lá, só memorias

O resto de açucar na xícara
trouxe o pássaro ao apê
Talvez assim alguém sinta o gosto de vida
e volte a morar em ti, pobre desolado

Retratos da família, marcas de giz
nada menos que cicatrizes e mágoas
dores de vinte anos partidos sem adeus
e um silêncio deixado para trás

Um dia, o açucar da xícara acabou
e o beija-flor voou longe
Não lhe apetece o amargo do resto
o sabor de niguém; solidão

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Veja em ti as rugas
rugas novas, rugas nossas
marcas da tua expressão loquaz
cicatrizes de um passado inteiro

não escondes tua face
atrás de maquiagem ou cirurgia
passado verdadeiro é o teu
que transparece como nos olhos

salvo os cabelos brancos,
não te preocupes com o resto
sabes muito bem que o tempo,teu filho,
é misericordioso

Roubou de ti algumas lágrimas
mas te deu o nosso doce e eterno amor