sábado, 1 de setembro de 2012

Ao longo da calçada, caminhava , sutilmente, o plerpexo escritor. Nada mais fazia do que pensar e pensar era sua existencia; os pés apenas acompanhavam o ritmo de sua frenesi. Luzes de apartamentos e neons de outdoors pintavam o singelo cenário ao redor da lagoa. Lugar escolhido por ele ou, como diz o próprio, destinado a ele, era o palco de suas magníficas peças teatrais e monólogos onde pedaços de sua personalidade entrecenavam e debatiam , sem escrúpulos, sobre todos os mínimos pormenores da existência humana. Cabia a ele pôr ordem à peça; conciliar as partes. Já era tarde da madrugada e a lagoa agora não refletia mais luzes da cidade; o luar se encarregava de dar a luz à mente tortuosa do irreverente pensador. Olhava para as estrelas e tentava lembrar as que faltavam. Lembrava da noites solitárias do campo onde se tinha a impressão de que o universo estava logo acima de sua cabeça e , como em um jogo de ligar pontos, refazia as costelações perdidas, afugentadas pelo céu urbano. Sentou no primeiro banco que achou; já caminhava à horas pela calçada e pelos pensamentos. Não sabia se lhe doia mais os pés ou a mente e relutou em persistir em uma resposta; sabia que iria apenas machucar mais a última. Tomou um longo fôlego e tratou de curar sua indiferença. Seu último pensamento antes de se esconder em alguma desconhecida constelação daquele céu de retalhos foi: Penso, logo, existo; se não penso...

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